segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Programa de Superação do Racismo e desigualdade Racial



Este programa foi criado com o intuito de pagar uma dívida social com a população negra do Brasil, que após anos de escravidão teve sua liberdade, mas nenhum aparo do Estado para constituição de uma vida digna. Tal fato resultou na gritante desigualdade social entre cidadãos brancos e negros. O programa foi criado como parte de um documento elaborado em função da “Marcha contra o racismo”, ocorrida em 20 de novembro de 1995 – ocasião em que se comemorava o tricentenário de Zumbi dos Palmares.
A forte atuação dos movimentos negros tantos deixaram grandes marcos em nossa historia e possibilitou conquistas previstas hoje em Lei. Podemos citar Zumbi, Revolta dos Malês, Chibata e tantas outras representações do povo negro, como as grandes manifestações e protestos ocorridos no centenário da abolição em 1988.
Dados recentes da Secretaria de assuntos estratégicos mostram que no Brasil, 51% da população são formados por negros. No entanto, as informações mostram que, apesar dos avanços, ainda existe uma grande desigualdade no país. Exemplo disso é que os negros representam apenas 20% dos brasileiros que ganham mais de dez salários mínimos. A população negra também representa apenas 20% dos brasileiros que chegam a fazer pós-graduação no país.
Muito se tem feito para garantir os direitos de igualdade da população negra do país dentre as conquistas podemos citar:
·         Sistema de cotas em faculdades –  a validade de tais reservas para estudantes negros no Brasil foi votada pelo Supremo Tribunal Federal em 2012, que julgou por unanimidade que as cotas são constitucionais.
·         Criminalização do racismo (Artigo 5º)
·         Reconhecimento de propriedade das terras de remanescentes de quilombos - O Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o artigo 68, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. A partir do Decreto 4883/03 ficou transferida do Ministério da Cultura para o Incra a competência para a delimitação das terras dos remanescentes das comunidades dos quilombos, bem como a determinação de suas demarcações e titulações.
·         Criação da Secretaria da Igualdade Racial em 2003 – Tem como objetivo promover a igualdade e a proteção de grupos raciais e étnicos afetados por discriminação e demais formas de intolerância, com ênfase na população negra.
·         Criação do Estatuto da Igualdade Racial  - Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.
·         Criação do Dia Nacional da Umbanda - O documento foi sancionado a partir do Projeto de Lei da Câmara nº 187 de 2010, que propõe em sua justificativa, o direito constitucional à liberdade de crença e o livre exercício dos cultos religiosos, conforme o inciso VI do art. 5º da Constituição. Além de defender a valorização, a origem e a difusão da religião umbandista no país por tratar-se de uma religião genuinamente brasileira. 
Ainda há muito que se fazer, mas a participação da população para garantir seu direitos é fundamental para que concretize o disposto no artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão  e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.”

Bibliografia e Referências
MONDAINI, Marcos; Direitos Humanos no Brasil, 2009, Ed. Contexto, pgs. 97-136.
www.incra.gov.br/

PREFÁCIO AO II PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS / FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (2002)



Em virtude da elaboração de dois Progra­mas Nacionais de Direitos Humanos, nos oito nos em que o Partido da Social-Democracia Brasileira esteve em posse do governo do país, pode-se observar dois passos im­portantíssimos na direção da edificação de uma política nacional de proteção dos direitos humanos no Brasil. Lançado em 13 de maio de 1996, no 1º Programa os direitos humanos são trazidos, primeiramente, como uma questão de política pública, não como alvo de ações eventuais. Já no II Programa, que foi lançado seis anos após o primeiro, um importante fator do I foi preenchido, pois nas propostas não constam apenas aquelas que dizem respeito aos direitos civis e políticos, mas também aquelas que tratam dos direitos sociais, econômicos e culturais.

O governo brasileiro alinhou, assim, a compreensão dos direitos humanos ao paradigma contemporâneo afirmado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e esse fator foi teve reconhecimento pelo próprio presidente da Repú­blica na época, no Prefácio ao 2º Programa:
PREFÁCIO
Fernando Henrique Cardoso 
A implementação das diretrizes do Programa Nacional de Direitos Humanos, ao longo dos últimos seis anos, abriu novas perspectivas de transformação no modo como a sociedade brasileira enfrenta o seu cotidiano, em sua busca constante por justiça e por melhores condições de vida.
Fortaleceram-se as garantias de que dispõem os brasileiros contra o arbítrio do Estado, a prática da violência, o desrespeito dos direitos fundamentais.
Sabemos que a promoção e a proteção dos direitos humanos é tarefa que cabe a todos nós: cidadãos e autoridades. Temos aprofundado nossa participação nos instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos, inclusive mediante o reconhecimento da competência de órgãos dos sistemas internacionais de proteção, que proporcionam uma garantia adicional de respeito aos direitos humanos.
Reconhecemos que o racismo ainda é um problema a ser enfrentado e que, nessa matéria, assim como em tudo que diz respeito à garantia de direitos humanos, é fundamental o engajamento de toda a sociedade brasileira, dos empresários e de todos aqueles que têm a possibilidade de estimular a diversidade nos ambientes de trabalho, de promover políticas de promoção de igualdade e inclusão, procurando assegurar oportunidades mais eqüitativas aos que, historicamente, são vítimas de discriminação.
Inserimos, na pauta das políticas públicas, questões que até pouco tempo atrás eram consideradas tabus ou não recebiam a devida atenção, como a dos direitos dos homossexuais, a situação dos ciganos, a prática da tortura, a questão da violência intrafamiliar, a necessidade de fortalecermos o combate ao trabalho infantil e ao trabalho forçado e a luta pela inclusão das pessoas portadoras de deficiência.
Inauguramos uma nova era no campo das políticas sociais. Deixamos para trás as políticas de cunho assistencialista. Estamos construindo uma autêntica rede de proteção social, implementando programas que possibilitam a transferência direta de renda aos mais pobres, garantindo-lhes as condições de acesso aos bens e serviços. A atualização do Programa Nacional de Direitos Humanos traz avanços importantes relativos ao direito à educação, à saúde, ao trabalho, à moradia, à cultura e ao lazer.
Ao mesmo tempo em que se realiza um balanço sobre os resultados já obtidos, sobre as dificuldades que têm impedido avanços ainda maiores, incorpora-se no programa a questão dos direitos econômicos, sociais e culturais, em conformidade com a concepção moradia, à cultura e ao lazer.

PROPOSTAS DE AÇÕES GOVERNAMENTAIS
Propostas Gerais
1. Apoiar a formulação, a implementação e a avaliação de políticas e ações sociais para a redução das desigualdades econômicas, sociais e culturais existentes no país, visando à plena realização do direito ao desenvolvimento e conferindo prioridade às necessidades dos grupos socialmente vulneráveis.
2. Apoiar, na esfera estadual e municipal, a criação de conselhos de direitos dotados de autonomia e com composição paritária de representantes do governo e da sociedade civil.
3. Apoiar a formulação de programas estaduais e municipais de direitos humanos e a realização de conferências e seminários voltados para a proteção e promoção de direitos humanos.
4. Apoiar a atuação da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, a criação de comissões de direitos humanos nas assembléias legislativas estaduais e câmaras municipais e o trabalho das comissões parlamentares de inquérito constituídas para a investigação de crimes contra os direitos humanos.
5. Estimular a criação de bancos de dados com indicadores sociais e econômicos sobre a situação dos direitos humanos nos estados brasileiros, a fim de orientar a definição de políticas públicas destinadas à redução da violência e à inclusão social.
6. Apoiar, em todas as unidades federativas, a adoção de mecanismos que estimulem a participação dos cidadãos na elaboração dos orçamentos públicos.
7. Estimular a criação de mecanismos que confiram maior transparência à destinação e ao uso dos recursos públicos, aprimorando os mecanismos de controle social das ações governamentais e de combate à corrupção.
8. Ampliar, em todas as unidades federativas, as iniciativas voltadas para programas de transferência direta de renda, a exemplo dos programas de renda mínima, e fomentar o envolvimento de organizações locais em seu processo de implementação. 
9. Realizar estudos para que o instrumento de ação direta de inconstitucionalidade possa ser invocado no caso de adoção, por autoridades municipais, estaduais e federais, de políticas públicas contrárias aos direitos humanos.
10. Garantir o acesso gratuito e universal ao registro civil de nascimento e ao assento de óbito.
11. Apoiar a aprovação do Projeto de Lei nº 4715/1994, que transforma o Conselho de
Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – CDDPH em Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH, ampliando sua competência e a participação de representantes da sociedade civil
Bibliografia
http://www.ibase.br/pubibase/media/dv28_cartaparamaria_ibasenet.pdf

PRINCÍPIOS DA CONFERÊNCIA NACIONAL DE MULHERES BRASILEIRAS (2002)



O ano de 2004 tem um significado especial na vida das brasileiras: foi decretado pelo presidente Lula como o Ano da Mulher no Brasil, com o lema faz diferença acabar com a indiferença, tendo como atividade prioritária a realização da I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, coordenada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), da Presidência da República, envolvendo mais de 120 mil mulheres, reunidas em plenárias municipais e regionais em 2.000 municípios e Conferências Estaduais nos 26 estados e Distrito Federal. Neste ano acontecerão eleições municipais, onde a presença das mulheres tem importância fundamental, pois estão em maioria no colégio eleitoral - 58.604.626 eleitoras -, podendo, portanto, decidir uma eleição.
A realização da Conferência não começou do nada, considerando-se a existência de uma trajetória anterior que não poderia ser esquecida e descartada. Foram necessárias muitas lutas, e graças à esse esforço as mulheres superaram a maior parte dos limites a elas impostos por uma sociedade fundamentada na centralidade do poder do homem. A primeira notória vitória foi a obtenção do direito de voto. Contanto, no início do século XXI ainda eram observadas práticas de um passado em que o sexo feminino era visto somente como pertencente ao âmbito domiciliar e às suas tarefas como mãe, esposa e dona de casa.

A Conferência Nacional das Mulheres Brasileiras possui como objetivos principais: dar forças aos movimentos femininos, fortalecendo seus direitos para/com a sociedade, produzindo transformações sociais em diversos âmbitos, como na superação das desigualdades de toda ordem, e estabelecimento de alianças internas e com parceiros externos aos movimentos. Entra também entre esses a democratização de informação, e exercício da liderança.
É necessário e compreendido pelas mulheres dessa Conferência que para que sejam acompanhados os debates cobre as sociedades e seu desenvolvimento devem aprofundar a capacidade de análise e crítica e elaborar propostas alternativas consistentes.
Essa conferência devia apresentar para a sociedade uma Plataforma Política com base na superação de desigualdades econômicas e sociais de todos os tipos, levando em consideração as distinções que cada local e região possuem.
Para que fossem alcançados de forma formidável esses objetivos, os maiores focos deviam ser: desigualdade, racismo e pobreza. Parte-se do eixo de que as discussões desenvolvidas devem ser de forma a abranger a totalidade das preocupações presentes na atuação política dos/as participantes, dando importância ás diversidades regionais.
Os princípios contidos nesta Carta devem ser respeitados por ins­tituições, organizações e grupos que venham integrar instâncias organizacionais da Conferência, e são:

           Comprometer-se com a crítica ao modelo neoliberal injusto, predatório e insustentável do ponto de vista econômico, social, ambiental e ético.
           Reconhecer os direitos econômicos, sociais, culturais e am­bientais das mulheres.
           Comprometer-se com a defesa dos princípios de igualdade e justiça econômica e social.
           Reconhecer o direito universal à educação, saúde e previ­dência.
           Comprometer-se com a luta pelo direito à terra e à moradia.
           Comprometer-se com a luta anti-racista e a defesa dos prin­cípios de equidade racial-étnica.
           Comprometer-se com a luta contra todas as formas de dis­criminação de gênero, e com o combate à violência, maus- tratos, assédio e exploração de mulheres e meninas.
           Comprometer-se com a luta contra a discriminação a lésbicas e gays.
          Comprometer-se com a luta pela assistência integral à saúde das mulheres e pela defesa dos direitos sexuais e reprodutivos.
          Reconhecer o direito das mulheres de ter ou não ter filhos com acesso de qualidade à concepção e/ou contracepção.
          Reconhecer o direito de livre exercício sexual de travestis e transgêneros.
          Reconhecer a descriminalização do aborto como um direito de cidadania e uma questão de saúde pública.
          Reconhecer que cada pessoa tem direito às diversas moda­lidades de família e apoiar as iniciativas de parceria civil registrada.

Os princípios a seguir visam ampliar o alcance da Conferência:

          A Conferência Nacional de Mulheres é um espaço aberto para o debate democrático de idéias, o aprofundamento de propostas e a articulação dos movimentos sociais de mulheres que se opõem ao neoliberalismo, ao sexismo, ao racismo e à homofobia.
          A Conferência Nacional de Mulheres reúne e articula orga­nizações de mulheres e ativistas feministas em nível nacional, mas não pretende ser uma instância representativa do movi­mento social de mulheres.
          A Conferência Nacional de Mulheres não tem caráter deli­berativo. Ninguém estará, portanto autorizado a exprimir, em nome da Conferência, posições que pretenderiam ser de todas as suas participantes. A Conferência somente aprovará por aclamação a sua Plataforma Política construída ao longo do processo.
          Será assegurado, no entanto, às entidades, pessoas ou conjuntos de entidades que participem da Conferência, a liberdade de deliberar sobre declarações e ações que decidam desenvolver em nome próprio. A Comissão Organizadora da Conferência se compromete a difundir amplamente essas declarações através dos meios de seu acesso.
          A Conferência Nacional de Mulheres tem a vocação de ser um espaço plural e diversificado, não confessional, não governamental e não partidário, que articula de forma descentralizada os movimentos sociais de mulheres em nível local, regional e nacional.

Essa Conferência foi um feito inédito no Brasil, pois pela primeira vez um governo conclamou os vários níveis de governo e sociedade civil a contribuírem com a elaboração de um Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Ao lado da mobilização dos movimentos de mulheres e feministas, as conferências da ONU também contribuíram para criar “ambiente propício para o reconhecimento da cidadania da mulher e institucionalizou a ‘questão da mulher’ como questão de estado e objeto de políticas públicas”. E, ainda, “a luta pelo reconhecimento e afirmação de direitos, as mulheres e a igualdade de gênero entraram de forma definitiva na agenda política institucional das nações e dos organismos internacionais”.
Demonstrou-se, assim, o potencial de mobilização, organização e contribuição das mulheres com o debate. Houve 3.844 propostas, vindas de lugares distintos, contemplando as diversidades regionais, de raça, de etnia, de geração e de orientação sexual, englobando os 5 eixos temáticos: 1. Enfrentamento da pobreza: geração de renda, trabalho, acesso ao crédito e à terra: 2. superação da Violência contra a Mulher - prevenção, assistência e enfrentamento; 3. promoção do bem-estar e qualidade de vida para as mulheres: uso e ocupação do solo, saúde, moradia, infra-estrutura, equipamentos sociais, recursos naturais, patrimônio histórico e cultural; 4. efetivação dos direitos humanos das mulheres: civis, políticos, direitos sexuais e direitos reprodutivos; e 5. desenvolvimento de políticas de educação, cultura, comunicação e produção de conhecimento para a igualdade. A I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres foi vitoriosa em todos os sentidos: de mobilização das várias instâncias governamentais, da participação efetiva e grande contribuição dos diversos movimentos de mulheres e feministas, aí incluídas idosas, jovens, negras, índias, com destaque para as negras que representaram mais de 40% das participantes. Conquista maior é que teremos, pela primeira vez no Brasil, um Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, cuja elaboração está a cargo do Grupo de Trabalho Interministerial, criado através do decreto de 15 de julho de 2004, com a participação de representantes de sete Ministérios, de duas Secretarias Especiais e uma do Conselho Nacional de Direitos da Mulher, sendo coordenado pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e contando com a participação nas reuniões e discussões de representantes dos governos estaduais, municipais e do Distrito Federal.
O sexo feminino do país construiu um momento histórico para o Brasil com a realização da I  Conferência Nacional de Política para as Mulheres. Esperamos que o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres contribua efetivamente para a construção de “um mundo de igualdade contra toda opressão”.

http://grabois.org.br/portal/cdm/revista.int.php?id_sessao=50&id_publicacao=184&id_indice=1419