segunda-feira, 1 de outubro de 2012

PRINCÍPIOS DA CONFERÊNCIA NACIONAL DE MULHERES BRASILEIRAS (2002)



O ano de 2004 tem um significado especial na vida das brasileiras: foi decretado pelo presidente Lula como o Ano da Mulher no Brasil, com o lema faz diferença acabar com a indiferença, tendo como atividade prioritária a realização da I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, coordenada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), da Presidência da República, envolvendo mais de 120 mil mulheres, reunidas em plenárias municipais e regionais em 2.000 municípios e Conferências Estaduais nos 26 estados e Distrito Federal. Neste ano acontecerão eleições municipais, onde a presença das mulheres tem importância fundamental, pois estão em maioria no colégio eleitoral - 58.604.626 eleitoras -, podendo, portanto, decidir uma eleição.
A realização da Conferência não começou do nada, considerando-se a existência de uma trajetória anterior que não poderia ser esquecida e descartada. Foram necessárias muitas lutas, e graças à esse esforço as mulheres superaram a maior parte dos limites a elas impostos por uma sociedade fundamentada na centralidade do poder do homem. A primeira notória vitória foi a obtenção do direito de voto. Contanto, no início do século XXI ainda eram observadas práticas de um passado em que o sexo feminino era visto somente como pertencente ao âmbito domiciliar e às suas tarefas como mãe, esposa e dona de casa.

A Conferência Nacional das Mulheres Brasileiras possui como objetivos principais: dar forças aos movimentos femininos, fortalecendo seus direitos para/com a sociedade, produzindo transformações sociais em diversos âmbitos, como na superação das desigualdades de toda ordem, e estabelecimento de alianças internas e com parceiros externos aos movimentos. Entra também entre esses a democratização de informação, e exercício da liderança.
É necessário e compreendido pelas mulheres dessa Conferência que para que sejam acompanhados os debates cobre as sociedades e seu desenvolvimento devem aprofundar a capacidade de análise e crítica e elaborar propostas alternativas consistentes.
Essa conferência devia apresentar para a sociedade uma Plataforma Política com base na superação de desigualdades econômicas e sociais de todos os tipos, levando em consideração as distinções que cada local e região possuem.
Para que fossem alcançados de forma formidável esses objetivos, os maiores focos deviam ser: desigualdade, racismo e pobreza. Parte-se do eixo de que as discussões desenvolvidas devem ser de forma a abranger a totalidade das preocupações presentes na atuação política dos/as participantes, dando importância ás diversidades regionais.
Os princípios contidos nesta Carta devem ser respeitados por ins­tituições, organizações e grupos que venham integrar instâncias organizacionais da Conferência, e são:

           Comprometer-se com a crítica ao modelo neoliberal injusto, predatório e insustentável do ponto de vista econômico, social, ambiental e ético.
           Reconhecer os direitos econômicos, sociais, culturais e am­bientais das mulheres.
           Comprometer-se com a defesa dos princípios de igualdade e justiça econômica e social.
           Reconhecer o direito universal à educação, saúde e previ­dência.
           Comprometer-se com a luta pelo direito à terra e à moradia.
           Comprometer-se com a luta anti-racista e a defesa dos prin­cípios de equidade racial-étnica.
           Comprometer-se com a luta contra todas as formas de dis­criminação de gênero, e com o combate à violência, maus- tratos, assédio e exploração de mulheres e meninas.
           Comprometer-se com a luta contra a discriminação a lésbicas e gays.
          Comprometer-se com a luta pela assistência integral à saúde das mulheres e pela defesa dos direitos sexuais e reprodutivos.
          Reconhecer o direito das mulheres de ter ou não ter filhos com acesso de qualidade à concepção e/ou contracepção.
          Reconhecer o direito de livre exercício sexual de travestis e transgêneros.
          Reconhecer a descriminalização do aborto como um direito de cidadania e uma questão de saúde pública.
          Reconhecer que cada pessoa tem direito às diversas moda­lidades de família e apoiar as iniciativas de parceria civil registrada.

Os princípios a seguir visam ampliar o alcance da Conferência:

          A Conferência Nacional de Mulheres é um espaço aberto para o debate democrático de idéias, o aprofundamento de propostas e a articulação dos movimentos sociais de mulheres que se opõem ao neoliberalismo, ao sexismo, ao racismo e à homofobia.
          A Conferência Nacional de Mulheres reúne e articula orga­nizações de mulheres e ativistas feministas em nível nacional, mas não pretende ser uma instância representativa do movi­mento social de mulheres.
          A Conferência Nacional de Mulheres não tem caráter deli­berativo. Ninguém estará, portanto autorizado a exprimir, em nome da Conferência, posições que pretenderiam ser de todas as suas participantes. A Conferência somente aprovará por aclamação a sua Plataforma Política construída ao longo do processo.
          Será assegurado, no entanto, às entidades, pessoas ou conjuntos de entidades que participem da Conferência, a liberdade de deliberar sobre declarações e ações que decidam desenvolver em nome próprio. A Comissão Organizadora da Conferência se compromete a difundir amplamente essas declarações através dos meios de seu acesso.
          A Conferência Nacional de Mulheres tem a vocação de ser um espaço plural e diversificado, não confessional, não governamental e não partidário, que articula de forma descentralizada os movimentos sociais de mulheres em nível local, regional e nacional.

Essa Conferência foi um feito inédito no Brasil, pois pela primeira vez um governo conclamou os vários níveis de governo e sociedade civil a contribuírem com a elaboração de um Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Ao lado da mobilização dos movimentos de mulheres e feministas, as conferências da ONU também contribuíram para criar “ambiente propício para o reconhecimento da cidadania da mulher e institucionalizou a ‘questão da mulher’ como questão de estado e objeto de políticas públicas”. E, ainda, “a luta pelo reconhecimento e afirmação de direitos, as mulheres e a igualdade de gênero entraram de forma definitiva na agenda política institucional das nações e dos organismos internacionais”.
Demonstrou-se, assim, o potencial de mobilização, organização e contribuição das mulheres com o debate. Houve 3.844 propostas, vindas de lugares distintos, contemplando as diversidades regionais, de raça, de etnia, de geração e de orientação sexual, englobando os 5 eixos temáticos: 1. Enfrentamento da pobreza: geração de renda, trabalho, acesso ao crédito e à terra: 2. superação da Violência contra a Mulher - prevenção, assistência e enfrentamento; 3. promoção do bem-estar e qualidade de vida para as mulheres: uso e ocupação do solo, saúde, moradia, infra-estrutura, equipamentos sociais, recursos naturais, patrimônio histórico e cultural; 4. efetivação dos direitos humanos das mulheres: civis, políticos, direitos sexuais e direitos reprodutivos; e 5. desenvolvimento de políticas de educação, cultura, comunicação e produção de conhecimento para a igualdade. A I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres foi vitoriosa em todos os sentidos: de mobilização das várias instâncias governamentais, da participação efetiva e grande contribuição dos diversos movimentos de mulheres e feministas, aí incluídas idosas, jovens, negras, índias, com destaque para as negras que representaram mais de 40% das participantes. Conquista maior é que teremos, pela primeira vez no Brasil, um Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, cuja elaboração está a cargo do Grupo de Trabalho Interministerial, criado através do decreto de 15 de julho de 2004, com a participação de representantes de sete Ministérios, de duas Secretarias Especiais e uma do Conselho Nacional de Direitos da Mulher, sendo coordenado pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e contando com a participação nas reuniões e discussões de representantes dos governos estaduais, municipais e do Distrito Federal.
O sexo feminino do país construiu um momento histórico para o Brasil com a realização da I  Conferência Nacional de Política para as Mulheres. Esperamos que o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres contribua efetivamente para a construção de “um mundo de igualdade contra toda opressão”.

http://grabois.org.br/portal/cdm/revista.int.php?id_sessao=50&id_publicacao=184&id_indice=1419

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